Banca Less-Cash
No cenário atual de evolução económica e tecnológica, os bancos enfrentam uma pressão crescente para se adaptarem às mudanças nas preferências dos consumidores e nas tecnologias financeiras emergentes.
Embora a visão de uma sociedade totalmente sem dinheiro físico (cashless) seja frequentemente discutida, a preparação dos bancos para uma sociedade com menos dinheiro físico (less-cash) é uma abordagem mais pragmática e viável a curto e médio prazo.
Defenderei esta posição a partir de seis pontos principais:
Transição Gradual e Inclusiva
A transformação de uma economia predominantemente baseada em dinheiro físico para uma sociedade completamente cashless representa um salto considerável que pode excluir segmentos significativos da população, como os idosos, pessoas de baixos rendimentos e aqueles com acesso limitado à tecnologia digital.
Ao focarem-se na transição para uma sociedade “less-cash”, os bancos podem implementar uma mudança gradual, garantindo que todos os clientes, independentemente das suas capacidades tecnológicas, possam acompanhar esta evolução.
Tal promove uma inclusão financeira mais ampla e reduz o risco de marginalização.
Infraestrutura e Custo de Implementação
A implementação de uma sociedade totalmente cashless requer uma infraestrutura robusta e segura que suporte transações digitais em todos os níveis.
Isso inclui não só a expansão das redes de pagamento digital, mas também a segurança cibernética melhorada para proteção contra fraudes e ataques.
A preparação para uma sociedade “less-cash” permite que os bancos distribuam os custos e o investimento necessário ao longo do tempo, facilitando um desenvolvimento sustentável da infraestrutura necessária.
Resiliência e Continuidade dos Negócios
Em situações de crise, como falhas de energia ou ataques cibernéticos, a dependência exclusiva de transações digitais pode causar interrupções significativas.
Manter uma certa quantidade de transações em dinheiro físico assegura uma camada adicional de resiliência operacional.
Os Bancos que se preparam para uma sociedade “less-cash” garantem que ainda exista um meio de pagamento alternativo disponível, reforçando a continuidade dos negócios em situações adversas.
Adaptação às Preferências dos Consumidores
Embora o uso de dinheiro físico esteja diminuindo, ele ainda é amplamente utilizado por muitos consumidores.
Alguns estudos indicam que a confiança no dinheiro físico persiste, especialmente em transações de baixo valor.
Bancos que se focam numa abordagem “less-cash” podem equilibrar a oferta de serviços digitais avançados enquanto continuam a ir ao encontro das necessidades e preferências dos consumidores que ainda preferem ou necessitam de usar dinheiro físico.
Essa flexibilidade permite um melhor atendimento ao cliente e reforça a confiança no sistema bancário.
Alteração da Missão das Agências Bancárias
Para se adaptarem eficazmente a uma sociedade “less-cash”, os bancos precisam reconsiderar a missão das suas agências físicas.
Tal deve incluir a criação de zonas self-service, equipadas com caixas eletrónicas avançados e quiosques digitais para transações simples, como depósitos e levantamentos.
Esta mudança permitirá que os empregados se concentrem em operações mais complexas e consultivas, aumentando a eficiência operacional e melhorando a experiência do cliente.
Além disso, a adoção de zonas self-service pode ajudar a educar os clientes sobre o uso de tecnologias digitais, facilitando a transição para métodos de pagamento menos dependentes de dinheiro físico.
Regulamentação e Segurança
As regulamentações em torno das transações financeiras digitais estão em constante evolução.
Os bancos precisam estar preparados para responder rapidamente às novas exigências regulatórias, que podem variar de região para região.
Uma abordagem “less-cash” permite que os bancos ajustem as suas operações de acordo com as regulamentações vigentes, mantendo a conformidade e minimizando riscos associados.
Além disso, esta abordagem oferece tempo para desenvolver e implementar medidas de segurança cibernética robustas, essenciais para proteger tanto o banco, como os clientes.
Conclusão
A preparação para uma sociedade “less-cash” é uma estratégia mais pragmática e inclusiva para os bancos no curto e médio prazo.
Ela oferece uma transição mais suave e sustentável, que respeita as necessidades dos consumidores, otimiza os custos de implementação e garante resiliência operacional.
Assim, os bancos podem gradualmente construir a infraestrutura e a confiança necessárias para, eventualmente, considerar uma sociedade totalmente cashless no futuro, se e quando tal for apropriado.