ESports em Portugal
Os ESports em Portugal estão em ascensão, tal como acontece em todo o mundo, em grande parte porque são acessíveis a jogadores, fãs e marcas.
Este crescimento acentuar-se-à no futuro à medida que a geração digital, que nasceu em contacto com as plataformas digitais de videojogos, se vá tornando maioritária.
As marcas estão já a seguir este fenómeno com grande atenção, sendo de esperar que num futuro próximo comecem a dedicar uma parte do seu orçamento para marketing nos ESports.
Serão os ESports um desporto?
Não existe uma resposta definitiva sobre o que torna uma atividade um desporto ou uma mera atividade desportiva.
A Federação Portuguesa de Desportos Electronicos “FPDE” considera que o desporto eletrónico reúne vários aspetos que juntos lhes dão a legitimidade de lutar pelo reconhecimento como modalidade desportiva de pleno direito, sendo eles:
- estratégia;
- perícia;
- jogo de equipa;
- competição;
- profissionalismo;
- entretenimento.
Na verdade, se o esforço físico, ou a sua intensidade, fosse o único fator a ter em conta para considerarmos uma atividade como um desporto, não teríamos o Xadrez, Bridge ou Pesca Desportiva como desporto.
Ainda assim, existem estudos científicos que demonstram que os níveis de esforço físico, coordenação motora de diversos órgãos do corpo e pressão a que estão sujeitos os atletas de alta competição de desportos eletrónicos são equivalentes (e em alguns casos até superiores) a outros desportos tradicionais, como a Fórmula 1 ou o Ténis de Mesa, este último um desporto olímpico.
Desportos eletrónicos e desportos tradicionais
Existe um claro paralelismo entre os desportos eletrónicos e os desportos tradicionais, podendo mesmo, nalguns casos, funcionar como extensão destes últimos.
Com efeito, também nos desportos electrónicos existem campeonatos, clubes, jogadores e principalmente fãs, que acompanham, assistem e adquirem merchandising.
A grande diferença entre os dois reside no ambiente digital em que os ESports habitam. Uma diferença que acaba por aproximar mais a comunidade que vive e gravita na indústria e a mudar a forma como os fãs e adeptos se relacionam com os clubes e os seus ídolos.
A entrada de clubes desportivos tradicionais nos ESports, como por exemplo Benfica, Sporting, Famalicão e Braga (Fifa), Tondela, Portimonense e Boavista (Pro Evolution Soccer) são a prova que os desportos eletrónicos terão um grande peso na vida dos clubes e na renovação das suas massas associativas.
Existe uma grande oportunidade e um enorme potencial para a aproximação dos clubes e marcas aos Esports.
Crescimento dos ESports em Portugal
Portugal está a tornar-se cada vez mais proeminente na indústria global de videojogos e os gastos dos gamers neste tipo de jogos pode funcionar como um ponto de referência.
No geral, tem evoluído de forma francamente positiva, sobretudo nos últimos cinco anos. Se juntarmos isso à entrada de vários clubes desportivos ao mercado, será fácil perceber que tanto a nível comercial como em número de praticantes existe um aumento significativo.
Os ESports em Portugal seguem a tendência mundial de crescimento em todas as vertentes:
- Número de atletas;
- Número de clubes;
- Número de pessoas que assistem a conteúdos de videojogos;
- Número de desportos eletrónicos.
Embora não existam dados oficiais, no que se refere ao número de jogadores e clubes no nosso mercado, estimamos os praticantes das diversas modalidades, dentro do desporto eletrónico, ultrapassarão, em Portugal, um milhão, dos quais cerca de 10 mil são atletas amadores que praticam regularmente e que aspiram ser profissionais.
Este valor justifica-se com vários indicadores, especialmente os cerca de 3 milhões de pessoas de nacionalidade portuguesa, atualmente a residir em Portugal, que têm como principal hobby jogar videojogos.
Contudo ainda não estamos ao nível de outros países quando falamos na profissionalização do setor e é algo que entidades como a FPDE e FPF ESports querem mudar rapidamente para que num futuro próximo nos aproximemos da realidade internacional.
Entre atletas portugueses a competir em equipas internacionais e atletas residentes em Portugal a competir em equipas nacionais, estimamos que existam cerca de 20 atletas 100% Profissionais.
Impacto dos desportos eletrónicos na sociedade
Tendo em consideração que as gerações digitais (pessoas nascidas na década de 90) sempre viveram numa realidade de sociedade digital (redes sociais/plataformas de video on demand), com o gaming e os desportos eletrónicos fazendo parte das suas principais atividades, será fácil concluir que eles irão ser um desporto de futuro.
De acordo com dados da consultora Newzoo, perto de 500 milhões de pessoas em todo o Mundo assiste hoje a conteúdos de ESports, num mercado que já movimenta mais de mil milhões de dólares.
Quando se fala do impacto social dos desportos eletrónicos, mesmo sem ter em consideração estes números, facilmente se percebe que ele é enorme pela influência nas atividades diárias das pessoas envolvidas, na forma como ocupam os seus tempos livres e até na forma como socializam.
Se a isso se juntar o facto de que muitas destas pessoas estarem já a criar verdadeiras carreiras profissionais na indústria, em diferentes áreas, torna-se inquestionável o valor e importância social dos desportos eletrónicos.
Ainda tendo em conta uma estimativa anual de tendências nas indústrias de videojogos, ESports e no mercado móvel, servindo como ponto de referência para os protagonistas dessas indústrias, no relatório mais recente publicado pela Eurogamer, Portugal ocupa a 38.ª posição entre os países que mais gastam em videojogos, com um valor estimado de US$ 283 milhões em 2018 para videojogos e os seus derivados.
Os desportos electrónicos têm hoje um estatuto respeitável ao nível mundial, com a sua profissionalização e sucesso económico como as maiores bandeiras.
Contudo em Portugal parece que só nos últimos anos é que começámos a assistir ao seu ressurgimento, com eventos como a Moche XL Esports a decorrer no Altice Arena, ou com a RTP a apostar na Twitch, uma plataforma de streaming de conteúdos maioritariamente de gaming.
Alguns casos de Sucesso em Portugal
Os videojogos já não são apenas jogos. São ESports, desportos-espetáculo, com jogadores profissionais e treinadores especializados.
Em Portugal existem alguns casos de sucesso, como são exemplo:
- Ricardo “Fox” Pacheco (Counter Strike)
- João “KillDream” Ferreira (Counter Strike)
- Francisco “Xico” Antunes (League of Legends)
- Francisco “Quinzas” Cruz (FIFA)
- Diogo Pombo “Tuga 810” (FIFA)
- Christopher “Christopher” Morais (Pro Evolution Soccer)
São estes exemplos que fazem sonhar muitos jovens portugueses apaixonados pelos videojogos, que dariam tudo por um salário para jogarem a tempo inteiro.
Ao longo dos últimos anos, o que parecia uma miragem tem-se tornado realidade, com os ESports (competições profissionais de jogos eletrónicos) a transformarem-se numa indústria que movimenta milhões e cujos profissionais, em alguns países já considerados atletas de alto rendimento, chegam a auferir ordenados milionários.
Portugal começa agora a dar os primeiros passos neste desporto, que ainda é uma palavra difícil em território nacional.
No panorama do gaming em Portugal, em relação a outras geografias, apesar de ter vindo a crescer na sua vertente competitiva, e atendendo à sua dimensão, o panorama é fraco para competir internacionalmente.
Isto porque as oportunidades de viver competitivamente de ESports em Portugal ainda são bastante reduzidas, pois sempre que existe a formação de um bom jogador ou equipa, estes são contratados por equipas profissionais internacionais, devido, sobretudo, à diferença salarial.
Impacto do COVID-19 nos ESports
Tal como qualquer outra indústria no Mundo atualmente, também a dos desportos eletrónicos foi impactada pela atual situação criada pelo surto pandémico do Covid-19.
Todos os eventos presenciais foram cancelados ou adiados para 2021 e a retração (ou impasse) no investimento das marcas, que suportam uma esmagadora percentagem da indústria, tem criado um ambiente de grande incerteza em competições, equipas e jogadores.
Contudo, como os ESports vivem na sua essência no âmbito virtual, a indústria rapidamente se adaptou e passámos a um cenário competitivo 100% online, com todas as competições a serem disputadas através da Internet.
Por outro lado, com todas as competições do desporto tradicional paradas, têm sido promovidas várias iniciativas que têm permitido cruzar desportistas reconhecidos de vários desportos, como o futebol ou o automobilismo, com profissionais de ESports.
Estas ações têm ajudado a promoção dos desportos eletrónicos como complemento aos desportos tradicionais e a torná-los mais mainstream do que nunca.
Conclusão
A falta de divulgação e investimento demonstra que estamos nitidamente atrasados, principalmente se nos compararmos directamente com o nosso país vizinho, que tem profissionais no mundo dos ESports em qualquer modalidade e onde não só os salários, como a formação dos jogadores, estão noutro patamar.
Apesar destes factos, o sucesso dos ESports e da indústria que se desenha nos bastidores da competição de videojogos galopa pelos campos digitais fora e permite a criação de novas profissões, que também surgem em Portugal, entre elas:
- Jogadores;
- Fotógrafos;
- Writers;
- Gestores de Redes Sociais;
- Editores de video.
Considera-se assim que Portugal não está propriamente mal, sendo, contudo, a sua evolução lenta quando comparada com outras geografias, havendo espaço para fazer mais e melhor, cabendo essa responsabilidade a cada um que se considere parte integrante da Comunidade Gaming.