Pixelverse: Algumas implicações
O pixelverse aborda a ideia de uma possível reprodução de todas as imagens ou eventos passados, presentes e futuros.
Envolve questões profundas de tempo, espaço, causalidade e a própria natureza da realidade.
A ideia assaltou-me há muito tempo, numa aula de programação, quando as interfaces gráficas estavam a dar os primeiros passos e qualquer representação gráfica no ecrã exigia programação detalhada.
Como exercício para os alunos, solicitei o desenvolvimento de um programa que desenhasse uma pequeníssima “janela” no computador, sendo que cada aluno tinha uma variante diferente dessa janela.
Como tive que pensar em mais de vinte variantes, alguns pedidos eram de duvidosa aplicabilidade prática, contrariando uma regra que seguia nesse tempo, de que qualquer exercício deveria servir para qualquer coisa aplicável.
A um dos alunos, de que não me recordo o nome, saiu criar uma pequena janela no ecrã, que passasse por todas as combinações possíveis dos pixéis que a constituíam, usando branco e preto.
Aquando da entrega dos trabalhos, esse aluno questionou-me para que é que o programa que tinha desenvolvido servia, tendo a minha resposta andado à volta de que tinha servido para ele exercitar as suas capacidades de programação.
Aquando do teste e avaliação das aplicações, o programa deste aluno demorou tempo infinito a executar, mas parecia estar a funcionar de acordo com o solicitado, algo visível no ecrã.
Para tentar perceber se estava a funcionar corretamente, deixei-o a correr durante a noite, esperando que se no final se tivesse criado um pequeno quadrado branco, seria sinal de que estava a funcionar conforme solicitado.
No dia seguinte, passei pelo computador para ver se o programa já tinha acabado e percebi que ainda estava a executar, mas o que me chamou à atenção foi o formato da imagem que estava a ser gerada nesse momento que me pareceu uma cara.
Na aula seguinte, refleti sobre cada um dos trabalhos e a sua aplicabilidade e guardei intencionalmente este programa para o fim.
Tendo percebido que era o último, o aluno em questão voltou-se para mim e disse, “o meu não serve para nada, não é?”, ao que lhe respondi que o seu programa era aquele que mais impacto poderia ter.
Perante o espanto de todos, referi, o programa que desenvolveu pode criar todas as imagens que no passado, presente, ou no futuro foram, ou serão vistas, em qualquer ponto do mundo.
Recentemente resolvi voltar ao tema, escrevendo um artigo científico que refletisse sobre este tema e as questões que levanta.
A primeira questão filosófica que surgiu foi sobre o que significa “reproduzir” imagens de todos os eventos em todos os locais?
Seguem-se alguns aspetos sobre o assunto:
Determinismo e Laplace
O conceito lembra a hipótese do demónio de Laplace.
Este ser hipotético, conhecendo o estado exato de cada partícula do universo num dado momento, poderia, teoricamente, prever o passado e o futuro de forma exata.
No meu conceito, essa previsão não só existiria no plano matemático, mas seria possível recriar visualmente cada instante do tempo e do espaço.
Memória do Universo
O conceito também remete para uma visão em que o universo mantém uma memória de si próprio, onde cada átomo, partícula e evento deixa uma marca indelével.
A capacidade de reproduzir todas as imagens seria uma forma de aceder a essa memória cósmica.
Teoria da Informação e Mecânica Quântica
Se olharmos para a física quântica, especialmente para o conceito de entrelaçamento e decoerência, há um debate sobre se a informação de eventos no universo se perde ou se é preservada.
A minha ideia poderia partir do pressuposto de que, em última instância, toda a informação é preservada, de modo que seria possível, teoricamente, recriar qualquer evento, em qualquer lugar, a qualquer momento.
Perceção e Realidade
Filosoficamente, o conceito de “imagem” também pode ser examinado.
O que constitui uma imagem? É a representação fenomenológica de um evento captado por um observador, ou existe de forma independente do observador?
Neste sentido, o meu conceito poderia explorar uma realidade objetiva, onde tudo existe e pode ser reproduzido independentemente da presença de uma consciência que o perceba.
Implicações Éticas e Teológicas
Se todas as imagens, ou eventos, podem ser reproduzidos, isso envolve uma visão muito particular sobre o destino final do universo e o papel do tempo na existência.
Aqui, há espaço para reflexão sobre os limites da reprodução dessas “imagens” — haveria um fim para isso? Poderíamos manipular ou interferir nessas “reproduções”?
Explicação do conceito
A minha ideia baseia-se na premissa de que, ao gerar todas as combinações possíveis de pixeis num ecrã (ou numa matriz digital), inevitavelmente se exibiriam todas as imagens que já existiram, existem ou existirão — passadas, presentes e futuras.
Isto ocorre porque, teoricamente, qualquer imagem pode ser representada como uma combinação específica de pixeis numa tela.
Combinatória de Pixeis
Se um ecrã tem uma determinada resolução (por exemplo, 1920×1080) e cada píxel pode assumir um número finito de valores (como uma gama de cores limitada por bits, como 24 bits por píxel), o número total de combinações de pixeis seria finito, embora extremamente grande.
Ao exibir todas essas combinações, inevitavelmente acabaríamos por criar toda e qualquer imagem possível, incluindo aquelas que já vimos, que veremos no futuro, ou que nunca imaginamos.
Imagens Passadas e Futuras
Neste caso, imagens do passado, presente e futuro seriam todas exibidas porque o conjunto de combinações de pixeis inclui tanto aquelas que correspondem a eventos ou imagens reais (históricas ou ainda não vistas) como imagens abstratas ou fictícias que poderiam ser possíveis, mas nunca existiram na realidade.
Temporalidade
Embora o conceito de “passado” e “futuro” se refira a eventos num contexto temporal, as imagens resultantes dessa aplicação não precisam de seguir uma linha temporal.
Elas existem todas como combinações matemáticas possíveis dentro do espaço finito de combinações de pixeis, o que significa que a sequência em que são geradas é irrelevante para o seu valor temporal — uma imagem do futuro pode aparecer antes de uma imagem do passado, por exemplo.
Elaboração Filosófica
Este conceito pode ser visto como uma variante digital ou visual do Teorema do Macaco Infinito.
Este teorema sugere que um macaco, digitando aleatoriamente numa máquina de escrever por tempo infinito, eventualmente produziria todas as obras de Shakespeare.
No meu caso, ao gerar todas as combinações possíveis de pixeis, acabaria por “recriar” todas as imagens que existem, existiram ou existirão, tal como o macaco hipoteticamente escreveria todas as obras já escritas.
Questões Filosóficas e Implicações
A Natureza da Realidade
Se todas as imagens podem ser criadas através da mera combinação de pixeis, então surge a questão: o que torna uma imagem “real”?
As imagens geradas pela aplicação são “reais” ou são meras abstrações matemáticas até que correspondam a eventos ou objetos percebidos por observadores?
A Necessidade do Observador
Sem um observador que atribua significado a essas imagens, elas permaneceriam apenas combinações de pixeis.
Isso toca na discussão filosófica da fenomenologia, onde a realidade das coisas depende, até certo ponto, da consciência que as percebe.
Predição do Futuro
Outro aspeto intrigante é a possibilidade de ver imagens de eventos futuros.
Embora as combinações incluam imagens que possam corresponder a eventos que ainda não ocorreram, seria uma coincidência pura ou poderíamos teorizar que o futuro, de alguma forma, já está codificado nessas combinações de pixeis?
Limites Práticos
Embora o número de combinações seja finito (dado o número limitado de pixeis e cores num ecrã), o número total de combinações possíveis seria astronómico.
Exibir todas as imagens, em sequência, poderia levar um tempo incomensurável — o que levanta a questão sobre os limites práticos da tua aplicação e a própria noção de “todas as imagens” dentro de um intervalo de tempo finito.
Conclusão
O conceito que estou a desenvolver levanta questões sobre a relação entre matemática, computação e a realidade.
Ao gerarmos todas as combinações possíveis de pixeis, estamos essencialmente a explorar o universo de todas as imagens possíveis.
Se o espaço das imagens é finito, então sim, eventualmente todas as imagens passadas e futuras poderiam ser exibidas — mas isso não significa necessariamente que seriam compreendidas ou mesmo reconhecíveis sem o contexto necessário.
Se quiser saber mais sobre o Pixelverse, consulte os artigos seguintes: