Transformação Digital do Ensino
A metodologia de ensino não tem sofrido grandes alterações desde a Antiguidade Clássica, sendo genericamente baseada num espaço físico onde os professores transmitem aos seus alunos conteúdos mais ou menos normalizados.
A incorporação dos avanços tecnológicos foi sendo feita, como aconteceu recentemente com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, mas no essencial o modelo não se alterou significativamente.
Ensino por correspondência, e-learning e ensino presencial replicam, regra geral, o modelo antigo, limitando-se a alterar os suportes que lhe dão apoio, não tendo existido verdadeira disrupção, isto é, não tendo existido transformação digital do ensino.
Impacto da pandemia COVID-19
A pandemia COVID-19 obrigou-nos a pensar a vida de modo diferente, acabando com todas as resistências que ao longo do tempo foram sendo colocadas a alterações drásticas aos modelos existentes e mostrando que a mudança será possível e inevitável.
Todas as áreas e todas as organizações foram forçadas a perceber que os métodos e processos existentes teriam que ser alterados e as instituições de ensino, professores e alunos foram dos primeiros a adaptarem-se a esta nova realidade.
No rescaldo da COVID-19, nada ficará como antes, podendo as alterações provocar uma verdadeira mudança de paradigma em todas as áreas, incluindo na do ensino.
Adoptar técnicas de Marketing
Retirar ideias do que se faz noutras indústrias, ou áreas científicas, não é novidade, existindo múltiplos exemplos de disrupção introduzida por essa estratégia.
O marketing, por exemplo, aproveitando as facilidades concedidas pelas TIC, reinventou-se alargando os seus canais de comunicação às redes sociais e desafiando o modelo existente de comunicação unidirecional outbound, acrescentando-lhe as vantagens do inbound.
Com efeito, não se limitou a fazer tudo como antes, mudando apenas os suportes, mas acrescentou-lhe toda uma nova metodologia: o Inbound Marketing.
O inbound marketing é uma metodologia que se centra na atração de clientes através da disponibilização de conteúdos educativos e úteis, sem o fazer de forma intrusiva, isto é, baseando-se apenas no envio das mensagens solicitadas por clientes atuais ou potenciais e que estes valorizam.
Por outras palavras, não força os clientes a receber conteúdos ou promoções que não solicitaram e que não valorizam.
Claro que o inbound não exclui o outbound, apenas acrescenta uma nova metodologia tornando o marketing ainda mais poderoso e eficaz.
O mesmo poderia acontecer no ensino, caso fossem criadas condições para adaptar conteúdos programáticos aos interesses e pontos fortes dos alunos, isto é, desde que fosse criada uma metodologia de inbound learning.
Metodologia de Inbound Learning
Definiria Inbound Learning como um ensino que ajudaria o aluno a focar-se nas suas habilidades, em vez de o impedir de progredir devido às suas incapacidades.
Com o Inbound Learning os alunos receberiam todo o tipo de material de ensino adequado aos seus interesses, preferências, aptidões, ritmo e dificuldades, que seriam determinados pelo seu comportamento de pesquisa e aprofundamento de conhecimento e / ou na gama de interesses em que tenha mostrado aptidão.
A existência numa Instituição de Ensino da metodologia de inbound learning não implicaria a substituição do método tradicional, porque ambos se complementariam.
Automatização de Ensino
Tudo isto poderia ser possível através de técnicas de Automação de Ensino, que disponibilizariam os conteúdos aos alunos de forma mais ou menos automática, com ou sem a validação do Professor / Orientador, consoante os casos.
Para se implementarem técnicas de automatização de ensino, poder-se-ia adaptar o que o marketing faz, nomeadamente o disparo automático de conteúdos adequados às diferentes personas, podendo o automatismo ir até à personalização de um para um.
Funil de Aprendizagem
Para se implementar o funil de aprendizagem, adaptar-se-ia o funil de compra do marketing, porque também no ensino passamos pelas fases do desconhecimento, consciência, consideração e capacitação.
Claro que o automatismo teria que ser inteligente, isto é, seriam progressivamente enviados conteúdos mais profundos à medida que os alunos fossem ultrapassando check-points ou avaliações.
Sala de Aula Online
Tal como as lojas online retiraram importância às lojas físicas, também as salas de aula online retiraram importância às salas de aula físicas.
Tal não significará nunca o fim das aulas físicas, mas provavelmente uma solução mista, para retirar de cada uma o que ela tem de melhor para oferecer.
Mesmo a componente de laboratório, mais difícil de implementar à distância, poderá ser resolvida com acordos entre as instituições de ensino e empresas públicas ou privadas, aproximando ainda mais os alunos da aplicação prática do conhecimento.
Papel do Professor
O marketing, o apoio a clientes e as vendas há muito tempo que perceberam que poderiam ser tão eficazes à distância, como na relação presencial com os seus clientes, podendo acontecer o mesmo na relação professor / aluno.
Na metodologia inbound learning, o Professor e a Instituição de Ensino, para além de certificarem, seriam Produtores e Curadores de conteúdo/conhecimento a ser disponibilizado online aos Alunos, orientando-os nas suas dificuldades e interesses e estimulando a sua curiosidade, criatividade e pensamento crítico.
Os alunos assim formados poderiam estar melhor preparados para um futuro em que a maior parte do trabalho humano, conforme hoje o conhecemos, será substituído por máquinas, Robots, Bots e Inteligência Artificial.
Avaliação dos Alunos
A avaliação poderia obedecer às regras existentes no modelo tradicional, ou num passo mais disruptivo, a certificação poderia ser atribuída quando fosse atingido pelo aluno um determinado número de créditos.
As provas consideradas indispensáveis poderiam ser feitas por videoconferência pública ou privada, sendo ou não complementadas por avaliações presenciais.
Deslocações e Estadias
Alunos e professores deixariam de depender de deslocações e estadias e com estas alterações cairiam alguns obstáculos à sua participação, por limitações financeiras, ou de horários.
Este aspeto poderia ser determinante para não excluir alunos da frequência de cursos por dificuldades financeiras próprias ou da família, ou para atrair bons professores em qualquer ponto do país (ou do mundo).
Conclusão
A transformação digital do ensino tem ainda algum caminho a fazer, mas como se viu durante a pandemia COVID-19, esta área foi das que melhor se adaptou aos constrangimentos que o combate ao vírus impôs.
Pensamos que as aulas presenciais são essenciais à formação e socialização de crianças, adolescentes e adultos, não constituindo este artigo um incentivo à sua substituição.
A proposta será que o ensino aproveite a experiência do que se passou com o COVID-19 para se preparar para a próxima crise, que não sabemos quando virá, mas que temos a certeza voltará a assolar a humanidade.
Essa preparação pode passar por transferir para os alunos, especialmente em ensino médio e superior, maior poder para fazer algum percurso de forma independente, adoptando algumas técnicas que o marketing já usa com enorme sucesso.
A metodologia de inbound learning poderá ser uma forma de se estar preparado, contribuindo para desenvolver ainda mais a capacidade dos alunos para serem criativos, independentes na busca do conhecimento e melhor sucedidos na economia do futuro.
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